Foto: Vitor Miranda/Acervo Pessoal | Por Gabriela Brumatti, Terra da Gente
Encontrados na Serra da Canastra (MG), novos exemplares se diferem pelas flores e pelo DNA.
Mais de 25 pesquisadores, alunos e professores de diversas instituições do Brasil e do mundo se uniram, há quase 20 anos, por um propósito: serem “caçadores” de plantas carnívoras. A mais recente conquista da equipe é uma nova espécie, descoberta na Serra da Canastra, região de Delfinópolis (MG). Chamada de Genlisea hawkingii, a planta tornou-se uma homenagem dos estudiosos ao físico inglês Stephen Hawking (1942–2018).
O professor do Departamento de Biologia Aplicada à Agropecuária da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Jaboticabal, Vitor Miranda, explica que a região onde a nova planta foi encontrada é muito pressionada pela agricultura, pecuária e mineração. “E, por enquanto, só encontramos essa espécie neste local. Para a ciência, se essa população acabar, ela foi completamente extinta”.
O achado, em si, foi feito há quase dois anos numa região próxima ao Parque Nacional da Serra da Canastra, mas apenas agora, depois de diversas análises, a proposta científica foi aceita e a planta foi nomeada. “O principal motivo da escolha do nome foi, além de ser um cientista brilhante, Stephen Hawking ser um personagem extremamente importante para a divulgação da ciência. Além disso, o Prof. Bartosz Jan Płachno, da Universidade Jaguelônica da Polônia, também é um grande colaborador deste trabalho e achamos que seria interessante fazer essa homenagem, por ele ser europeu”.
O pesquisador ainda esclarece que, para definir uma planta como nova espécie, ela precisa apresentar particularidades nas flores, nas cores ou ainda no DNA. “No caso da Genlisea hawkingii, o formato da flor dela tem diferenças em relação ao que já conhecíamos, o cálcar da espécie (um apêndice da flor que armazena néctar para a polinização) é curvo e há distintos tipos de pelos sobre as folhas e flores, além das diferenças no DNA quando comparado ao de outras plantas carnívoras”.
A pesquisa, realizada pelo grupo com o apoio da FAPESP, consiste no estudo, tanto no laboratório quanto em campo, da reprodução, genética e polinização de plantas carnívoras já conhecidas e na busca de novas espécies. De forma a tentar auxiliar na vida de seres tão particulares, os pesquisadores, a cada expedição, conversam também com os donos das propriedades e tentam mostrar a importância da diversidade e a possibilidade do ecoturismo.
Trabalhando com esse grupo de planta como modelo de estudos os especialistas esperam, ainda, fazer descobertas que se apliquem a todos os seres vivos. “Muita gente pensa: que diferença vai fazer uma espécie nova? O curioso é saber que desde quando Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil e começou a descrever o que havia aqui, ainda não conseguimos conhecer tudo. E há sinais de que estamos destruindo numa velocidade muito maior do que vamos conseguir descobrir”, explica o professor garantindo que cientistas brasileiros também serão homenageados em futuras plantas carnívoras encontradas.
Fonte: G1