A unidade de conservação estadual protegerá animais e plantas raros e ameaçados de extinção em quase 360 ha de Cerrado
Por Aldem Bourscheit
Foto: O casal Marc Dourojeanni e Maria Tereza Jorge Pádua nas terras reconhecidas como RPPN. Foto: Maricéia Pádua / Arquivo Pessoal
O Conselho de Política Ambiental (Copam) de Minas Gerais aprovou na terça-feira (28) a criação da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Maria Tereza Jorge Pádua. O próximo passo é a publicação da medida no Diário Oficial do Estado, o que não tem data prevista.
Ambientalista histórica e servidora de órgãos públicos como o antigo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (1967-1989), Maria Tereza ajudou a proteger no Brasil mais de 80 mil km2 – similares à área da Áustria –, incluindo os parques nacionais da Amazônia, do Cabo Orange e da Serra da Canastra.
“Estou emocionada e feliz da vida que [a reserva] tenha meu nome. Áreas preservadas como essa estão ficando raras no Brasil”, disse ela, também conselheira da Associação O Eco, fundadora e presidente de honra da ong Fundação Pró-Natureza (Funatura).
A RPPN ocupará 355 ha dos 500 ha de Cerrado da Fazenda Vargem Alegre, em Augusto de Lima, a 250 quilômetros ao norte da capital Belo Horizonte.
A fazenda e a RPPN pertencem a Claudio Túlio Jorge Pádua e Maricéia Barbosa Silva Pádua, filho e nora de Maria Tereza. Maricéia é gerente do Parque Estadual do Pau Furado, entre os municípios mineiros de Uberlândia e Araguari.
Vegetação nativa abrigada na futura reserva particular. Fotos: Maricéia Pádua / Arquivo Pessoal
A reserva abriga de veredas a campos salpicados por rochas, nascentes, riachos e áreas úmidas, a palmeira-juçara e várias outras plantas, bem como animais como lobo-guará, tamanduá bandeira, tatu-canastra e cachorro-do-mato. Contudo, há muito mais.
Um parecer do Governo de Minas Gerais, do início de janeiro passado, conta que no local foram observadas pegadas de onça-pintada e de anta, bem como espécies de anfíbios e de aves importantes para conservação ou exclusivas do Cerrado.
“Destacam-se ainda os sítios paleontológicos e arqueológicos com presença de pinturas rupestres em uma área limítrofe ao imóvel onde a RPPN foi proposta”, acrescenta o documento.
Além disso, a reserva compõe corredores com áreas conservadas em fazendas vizinhas, está inserida na estadual Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra do Cabral e na Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, reconhecida pelas Nações Unidas.
O processo para criar a RPPN começou no ano passado. De acordo com a legislação brasileira, tais reservas são criadas em terras privadas e podem associar conservação com turismo e pesquisas científicas. Sua delimitação é perpétua e traz benefícios como a isenção do Imposto Territorial Rural.
Conforme um painel da Confederação Nacional de RPPNs, há quase 1.900 dessas áreas protegidas em todas as regiões do país, somando aproximadamente 8,4 mil km2, semelhantes a um terço do território de Alagoas.