Rio São Francisco é palco de conflito entre interesses de grandes empresas e comunidades que sobrevivem de suas águas
Todos os anos, movimentos populares, comunidades tradicionais, ribeirinhas, de pesca artesanal, ONGs e uma série de atores sociais se mobilizam em defesa do Velho Chico – CPP
Iyalê Tahyrine
Brasil de Fato | Recife (PE) | 03 de Junho de 2020 às 20:43
O dia 3 de junho é o Dia Nacional em Defesa do Rio São Francisco. Todos os anos, movimentos populares, comunidades tradicionais, ribeirinhas, de pesca artesanal, ONGs e uma série de atores sociais se mobilizam em defesa do Velho Chico. A luta em defesa do rio não é apenas pelo fim do dos conflitos ligados ao hidronegócio, mas também pela responsabilização social e ambiental das empresas que lucram com o rio mas pouco fazem para mantê-lo.
Nascendo na Serra da Canastra em Minas Gerais, o Velho Chico perpassa o sul da Bahia até Pernambuco e muda seu rumo em direção ao Oceano Atlântico na divisa entre Alagoas e Sergipe. Com 2.700 km de extensão, ele beneficia 505 municípios dos estados por onde passa além de Goiás e o Distrito Federal.
Devido a toda sua extensão, o São Francisco vem sendo um meio de sobrevivência para diversas comunidades ribeirinhas e tradicionais, mas também atendendo a demandas do agronegócio, indústria, siderurgia, mineração, produção de energia elétrica e até o descarte do esgoto de centenas de cidades.
O agronegócio que é o grande vilão do Rio São Francisco que usa água de maneira indiscriminada, que contamina toda fauna e toda a flora aquática com pesticidas, diversos venenos.
A ação humana e das empresas vem degradando a biodiversidade do rio, como explica Felipe Sena, biólogo do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA).
“Desde o ataque que sofre por conta da especulação imobiliária, que ocupa as margens do rio de maneira desordenada acabando com as matas ciliares por causa do assoreamento, as baronesas de muitas cidades ribeirinhas que despejam muitos e muitos litros de dejetos no rio, além do efeito destrutivo das indústrias e, principalmente, do agronegócio que é o grande vilão do Rio São Francisco que usa água de maneira indiscriminada, que contamina toda fauna e toda a flora aquática com pesticidas, diversos venenos”, reitera.
Mobilização
Iniciativas vêm sendo tomadas para mudar esse cenário, como as ações do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF), que reúne organizações para discutir e propor projetos que consigam minimizar os impactos no rio. Todo ano, o Comitê realiza a campanha “Eu viro carranca para defender o Velho Chico”.
Sena ressalta a importância dessas iniciativas no cuidado com o rio. “Elas são fundamentais porque partem do ponto de vista da necessidade de fazer a preservação do rio, a revitalização do rio com iniciativas hidroambientais que cuidem do rio, cuidem dos seus afluentes, que possam oportunizar a participação da população ribeirinhas nisso.”
“É preciso construir planos de saneamentos municipais pra que todo esse lixo e todos esses dejetos que são produzidos nas cidades, ele não contamine o rio e mais do que nunca a sensibilização de toda a sociedade, que toda sociedade precisa compreender a importância que o rio tem”, completa.
Entre 2012 e 2019, cerca de R$ 42 milhões foram investidos em projetos hidroambientais e no planos municipais de saneamento básico. Essas e outras iniciativas acumulam para a construção de um modelo de utilização do rio que pense não apenas nos números para divulgação, mas que pense, sobretudo, no uso responsável do rio com respeito ao meio ambiente e com as pessoas que precisam das suas águas para viver.
Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Marcos Barbosa