Produtores da região lançam a marca Território Café da Canastra para fortalecer a promoção e o posicionamento no mercado
Por Eliane Silva — Piumhi
Foto: Eliane Silva – Região está localizada entre o oeste e o sul de Minas Gerais e reúne mais de 1.100 propriedades de café
A Associação dos Cafeicultores da Canastra (Acanastra) e o Sebrae Minas Gerais se uniram para lançar a marca Território Café da Canastra, uma estratégia de promoção e posicionamento no mercado, com foco na produção sustentável do café arábica na região.
O plano é seguir o caminho trilhado pelos queijos da Canastra.
A região localizada entre o oeste e o sul de Minas Gerais reúne mais de 1.100 propriedades de café em um total de 33 mil hectares de área plantada em dez municípios, com produção de cerca de 750 mil sacas de 60 kg.
A cerimônia de lançamento da marca, com a participação de dezenas de produtores e especialistas em café, ocorreu na semana passada em Piumhi, município que junto com São Roque de Minas responde por 60% do café produzido na Canastra.
A partir de agora, a marca será incluída, gradativamente, nas embalagens das sacas de café beneficiado produzidas pelos associados, nos cafés embalados e em materiais promocionais.
Relação
José Carlos Bacili, presidente da Acanastra, diz que a estratégia, além de destacar a qualidade do grão, visa mostrar a inter-relação da produção sustentável de café na Canastra, que não usa irrigação, com a preservação da biodiversidade, dos mananciais e das belezas naturais da região.
Bacili conta que o trabalho de criação da marca já demandou um investimento de mais de R$ 500 mil, sendo R$ 200 mil no primeiro ano só para validar a estratégia com contratação de pesquisa da Universidade Federal de Lavras e empresa de consultoria e marketing.
Executivo da Syngenta por 24 anos, Bacili se tornou cafeicultor na Canastra em 2015, após comprar uma área de 400 hectares, realizando um sonho de voltar às origens – seu avô era produtor de café no Paraná, mas a família teve que abandonar a lavoura devido à geada de 1975 e se mudar para Londrina.
Trajetória
A Acanastra foi fundada em 2019, quando as duas associações de produtores de café existentes na região buscaram o apoio do Sebrae Minas para unir forças e criar uma nova instituição que representasse a todos.
“Essa fusão propiciou o fortalecimento da cafeicultura na Canastra, além da conscientização dos produtores sobre a importância da governança, do associativismo e da necessidade de valorizar a origem produtora do café da nossa região com os potenciais compradores e consumidores por meio de uma identidade única”, diz Bacili.
Segundo ele, o apoio contínuo do Sebrae, a quem ele chama de “nosso investidor anjo”, foi fundamental para a criação da marca e o aumento de produtividade e qualidade do café da Canastra.
Na cerimônia de lançamento, o presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas, Marcelo de Souza e Silva, disse que há uma década o órgão promove diversas ações na Canastra para resgatar a tradição e identidade em torno da produção do agronegócio.
“A exemplo do queijo, agora com o café, o resultado pode ser visto nos ganhos de qualidade, sabor e, principalmente, de valor”, diz Silva, acrescentando que esse caminho de vanguarda no café vai garantir mais qualidade de vida aos produtores.
Grandes e pequenos
A Acanastra tem atualmente 35 associados, entre eles Joaquim Dias, que cultiva 1.000 hectares em Bambuí e Menezes para uma produção de 35 mil sacas de café por ano, sendo 30% do tipo especial, e Bruno Oliveira Faria, veterinário que trocou há seis anos a tradicional produção de leite da família pelo café.
Agrônomo formado na Esalq, Dias conta que se mudou para a região em 1983 sem saber nada sobre café. Hoje tem uma produção rastreada, com colheita mecanizada, emprega 160 pessoas e exporta boa parte da safra via tradings.
Bruno e o irmão André cuidam da lavoura de 100 hectares, com investimento em cultivares, colheita mecanizada, manejo de pragas e gestão profissional.
“O café é a commodity mais democrática. Tem rentabilidade maior que a soja e, mesmo com uma área pequena, o produtor que trabalhar direito pode viver bem”, diz Bruno.
Os associados acreditam que a difusão das novas tecnologias e boas práticas podem ajudar a Acanastra no seu maior desafio: atrair os pequenos cafeicultores, aqueles que têm no máximo 15 hectares, perfil da maioria da região.
Para isso, a associação pretende abrir o acesso às tecnologias de plantio, colheita e pós-colheita já adotadas pelos associados mais profissionais em dias de campo e trabalhar com os pequenos a produção de microlotes de café especial, que alcançam maior valor de mercado.
Aromas
A pesquisa identificou que o café da Canastra difere de outros de Minas e outros estados por possuir características climáticas e geográficas que influenciam na qualidade do grão.
Em geral, apresentam aroma e sabor de mel, de frutas amarelas e de chocolate ao leite com nuances de castanha, limão-cravo e laranja.
O café possui ainda doçura alta com notas de açúcar mascavo e cana-de-açúcar em equilíbrio com a acidez elevada e predominantemente cítrica. O corpo é denso, cremoso e sedoso com finalização longa e doce.
Indicação
Para reforçar a exclusividade do produto, a associação, com o apoio do Sebrae, entrou com processo no ano passado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) para obter o registro de Indicação Geográfica do Café da Canastra na modalidade Denominação de Origem (DO).
Esse registro garantirá que o produto possui qualidades e características exclusivas ou essencialmente ligadas à região da serra da Canastra, incluídos os fatores naturais e humanos. Bacili estima que o registro como DO saia no final deste ano ou início de 2024.
Minas já tem outras seis regiões com reconhecimento de marca Território: Cerrado Mineiro, Matas de Minas, Chapada de Minas, Diamantina, Região Vulcânica e Região Sudoeste.
Já têm Indicação de Procedência (IP) ou Denominação de Origens (DO) as regiões do Cerrado Mineiro, Matas de Minas, Mantiqueira de Minas, Chapada de Minas, Região Vulcânica, Campos das Vertentes e Caparaó.
No total, 14 regiões do Brasil produtoras de café possuem Indicação Geográfica, sendo 9 com o selo de IP e outras cinco com DO.
Fonte: Globo Rural