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segunda-feira, 16 setembro 2024

Canelinha, lobo-guará reintroduzido no interior de SP, é encontrado morto



Após encontrarem o corpo, pesquisadores verificaram que ele estava com sarna sarcóptica. A morte foi anunciada terça-feira.

Canelinha tinha três anos. Em vida livre, animais da espécie chegam a 10 anos, em média – Foto: Letícia Hidalgo

Canelinha era um lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) arisco. Sempre foi assim, desde que foi resgatado, ainda filhote, de um incêndio em um canavial, em agosto de 2021, por um morador da zona rural de Mococa, interior de São Paulo, e entregue ao Instituto Pró-Carnívoros e ao Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap) do ICMBio. Eram raras suas aparições no recinto em que viveu.

Após nove meses recebendo cuidados, Canelinha foi para o Instituto Libio, que começou o processo de reabilitação para soltura em um recinto construído especialmente para ele, com cerca de três mil metros quadrados, em uma área restaurada de Mata Atlântica ao lado do rio Tietê, em Porto Feliz (SP).

Antes da soltura acontecer, em 27 de abril de 2023, em Mococa, Canelinha foi marcado com brinco de identificação, recebeu uma coleira com GPS e transmissor de satélite para acompanhamento diário, além do implante de um dispositivo subcutâneo de monitoramento de frequência cardíaca para mapeamento dos níveis de estresse. O aniversário de um ano de sua soltura foi celebrado pela colunista do Fauna News e diretora executiva do Instituto Libio, Tatiane Rech, que acompanhou sua reabilitação.

Canelinha enfrentou adversidades impostas pelo meio

Canelinha era monitorado pela equipe, que planejava recapturas com frequência, para avaliação física do animal. E assim aconteceu em setembro de 2023. Outras duas tentativas aconteceram em abril e em junho deste ano, porém sem sucesso.

Rogério acompanhava diariamente os sinais enviados pela coleira de GPS e contou que Canelinha costumava cruzar uma estrada intermunicipal próxima à área onde vivia, que o deixava bastante apreensivo, além de todo o cenário de área alterada pelo ser humano em que Canelinha estava inserido. Mas, o lobo superou também essas adversidades.

Mas no dia 13 de agosto, a coleira GPS enviou um alerta de inatividade de mais de 14 horas. A equipe de monitoramento se deslocou até a área, em São José do Rio Pardo, onde encontrou Canelinha morto no meio do pasto, apontando que, possivelmente, tenha tido uma morte repentina. Ele apresentava sarna sarcóptica. O corpo foi encaminhado para necropsia na Universidade de São Paulo (USP).

A morte de Canelinha foi anunciada terça-feira (20 de agosto) por meio do perfil do Instagram do Sou Amigo do Lobo, projeto de educomunicação do Instituto Pró-Carnívoros, ligado ao Cenap/ICMBio.

Todas as imagens de armadilhas fotográficas que temos na área, além dos relatos de moradores locais que o avistavam, mostravam que Canelinha estava bem de saúde e ativo todos esses meses em que permaneceu em vida livre”, relatou o coordenador do Cenap, por Rogério Cunha de Paula

Mas no dia 13 de agosto, a coleira GPS enviou um alerta de inatividade de mais de 14 horas. A equipe de monitoramento se deslocou até a área, em São José do Rio Pardo, onde encontrou Canelinha morto no meio do pasto, apontando que, possivelmente, tenha tido uma morte repentina. Ele apresentava sarna sarcóptica. O corpo foi encaminhado para necropsia na Universidade de São Paulo (USP).

Canelinha sobreviveu a um incêndio ainda filhote e teve uma segunda chance – Foto: Letícia Hidalgo

Sarna sarcóptica é um mal silencioso

A sarna sarcóptica é uma doença que afeta a pele, causada pelo ácaro Sarcoptes scabiei. É uma enfermidade contagiosa, podendo ser transmitida a animais e humanos. A presença de animais domésticos infestados na área, espalhando os ácaros no capim, por exemplo, ou a disseminação por outros animais silvestres, estão entre as possibilidades da transmissão da sarna para lobos-guarás. O ácaro cava túneis na pele do hospedeiro, causando espessamento da derme e queda de pelos.

De acordo com Rogério, a origem da sarna que Canelinha contraiu é incerta, já que ele vivia em uma área antropizada (alterada pelas ações humanas). Para evitar o problema, que tem ocorrido com certa frequência em animais da espécie, Canelinha recebeu as doses de medicamento antes da soltura e um reforço na recaptura. As doses seriam ministradas nas demais recapturas, que os pesquisadores não tiveram sucesso.

Havia registros, por meio das armadilhas fotográficas, de outros animais com sarna circulando na região, o que causou apreensão nos especialistas.

“A sarna não é o motivo que levou Canelinha à morte. Ela é um agravante indireto. Mas ela debilita, expõe um dos órgãos essenciais, que é a pele. Quando exposta, é uma janela para entrada de diversas outras doenças ou facilita a manifestação de alguma doença pré-existente. O laudo de necropsia indicou que ele teve pneumonia e complicações renais, por exemplo. Os lobos-guarás são animais extremamente resistentes e a morte de Canelinha foi de uma causa aguda, tanto que o encontramos no meio do pasto”, explicou Rogério.

Rogério também contou que lobos-guarás vivem, em média, dez anos em vida livre. Canelinha ainda teria muitos anos pela frente.

Canelinha viveu em um grande recinto durante sua reabilitação. Cenas como esta eram difíceis de serem vistas – Foto: Lavinia Gavazzi

Esforços para a conservação dos lobos-guarás exigem grandes investimentos

Além de Canelinha, outros dez lobos-guarás são monitorados pelo Cenap em outras quatro localidades. A principal delas é a serra da Canastra(MG), berço de reprodução e abrigo de uma das maiores populações de lobos-guarás do país. Os especialistas estão em alerta, pois algumas semanas atrás já foi registrado um lobo acometido pela sarna circulando na região.

A conservação tem um preço. Toda a mobilização de pesquisadores especialistas, medicamentos, tempo para reabilitação, estratégias para soltura e monitoramento pós-soltura envolvem um custo alto, tanto financeiro quanto de tempo e mão-de-obra.

Canelinha é um exemplo de sucesso na reintrodução de um animal silvestre e também de como a ação humana interfere na vida da fauna. Assim como foi Lobinha, uma fêmea da espécie que, sete semanas após ser solta na serra da Canastra após processo de reabilitação, morreu atropelada em 14 de janeiro de 2018. Conflitos com proprietários rurais, incêndios e a consequente perda de hábitat, atropelamentos, efeitos da mineração, avanços da fronteira agrícola e doenças transmitidas por contato com animais domésticos são algumas das adversidades que os animais silvestres enfrentam em busca da sobrevivência.

Lobinha, que também passou por processo de reabilitação e foi solta, morreu atropelada na serra da Canastra (MG) em 2018 – Foto: Rogério Cunha de Paula

Fonte: Faúna News

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