Legenda: Reintrodução do pato-mergulhão na natureza deve forçar que outras áreas sejam preservadas — Foto: Crédito: Divulgação
Pesquisadores querem descobrir o que explica a dispersão dos filhotes em busca de um novo lar; ave é um importante bioindicador para água de qualidade
Por BluestOne
Serra da Canastra, sudoeste de Minas Gerais. Um dos mais importantes parques nacionais brasileiros, com 200 mil hectares e que abrange seis municípios, recebe uma expedição que pretende monitorar uma família de patos-mergulhões (Mergus octosetaceus). Os pesquisadores querem descobrir qual caminho os filhotes fazem quando dispersam do território dos pais, por volta dos oito meses de vida, à procura de um novo lar e de um par para criar uma nova família.
O trabalho envolve a BluestOne, empresa com sede em Saltinho-SP e que atua na recuperação de resíduos sólidos, e o Zooparque de Itatiba-SP, que realiza ações, por meio de educação ambiental e conscientização dos visitantes, sobre a importância da preservação de espécies animais.
A Serra da Canastra foi escolhida porque tem a maior população de patos-mergulhões do Brasil. São cerca de 100 animais. Os outros dois locais de ocorrência da ave são o Parque Estadual do Jalapão, em Tocantins, e a Chapada dos Veadeiros, em Goiás, que dividem, entre eles, outros 150 animais. Antigamente, exemplares da espécie eram vistos na Argentina e no Paraguai, mas, atualmente, são encontrados apenas no Brasil.
Alexandre Resende, veterinário da BluestOne, explica que o pato-mergulhão é mesmo raro, mas a importância dele e a preocupação com a redução populacional são evidentes. Resende explica que a ave é um importante bioindicador, ou seja, se ela estiver presente, significa que o lugar tem água limpa protegida por matas ciliares.
Perda de habitat
Quando os filhotes completam os oito meses de vida, eles têm um comportamento de dispersão, ou seja, vão em busca de um novo lar. Se, por algum motivo, saem das áreas preservadas no entorno da Serra da Canastra, podem não encontrar água de qualidade, que permite visualizar os peixes dos quais se alimentam, e acabar morrendo.
“A perda de habitat é o grande vilão do pato mergulhão”, afirma o veterinário.
Durante a expedição, Resende e Ton Viana, biólogo pesquisador do pato-mergulhão que presta consultoria para o Zooparque de Itatiba, monitoraram um casal do qual nasceram oito filhotes. A família será agora acompanhada para que se busque identificar se existem outros motivos que influenciam o dispersão dos filhotes. Geralmente, em uma família com oito, 50% dos filhotes não sobrevivem na natureza devido à grande predação.
Além desse monitoramento, o Zooparque está reproduzindo a ave em cativeiro, um trabalho que é pioneiro. O objetivo é formar uma grande população backup da ave, que possa, futuramente, ser reintroduzida na natureza. Resende diz que esse tipo de ação é necessário porque os ambientes naturais, sozinhos, não dão conta de oferecer condições para o aumento da espécie – justamente por causa da degradação provocada pelo ser humano. É preciso, diante disso, que outras mãos humanas, no caso a dos pesquisadores, intervenham. A reintrodução deve forçar que outras áreas sejam preservadas.
Para que a reprodução seja bem-sucedida, Resende vem coletando, há dez anos, ovos do pato-mergulhão, inclusive na Serra da Canastra, para garantir nascimentos seguros no Zooparque.
“Aliado a essas ações, será importante incentivar a educação ambiental, a conservação de matas ciliares, por meio não apenas dos parques, mas do Ministério Público e dos governos, municipais, estaduais e federal, já que a falta de água de qualidade afeta não apenas a sobrevivência das espécies, como o pato-mergulhão, mas é um risco para a humanidade”, declara Resende. “Por isso, o pato tem sido uma bandeira para outras questões de preservação”.
A expedição da BluestOne e do Zooparque segue as diretrizes dos Planos de Ação Nacional para a Conservação de Espécies Ameaçadas (PAN), que existem desde 2006 e são coordenadas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Uma vez por ano, pesquisadores se reúnem em Brasília-DF para discutir as estratégias de preservação da espécie – que, durante o 8º Fórum Mundial da Água, realizado em 2018 também em Brasília – foi eleita Embaixadora das Águas Brasileiras.
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Fonte: G1