PEQUENO DICIONÁRIO DA CANASTRA
Palavras, nomes e expressões típicas da Serra da Canastra
AAMONTOAR BILOSCA NO CIMENTO: Tentar fazer o que é muito difícil ou impossível. No caso da expressão, seria empilhar bolinhas de gude (biloscas).
BBARRIGA CHEIA, FOGO NO PAIOL: expressão que filosofa o seguinte: sem vigilância, e sem trabalho, o negócio não anda, não prospera. A referência concreta é ao paiol (lugar onde se guarda o milho e outros produtos secos), muito exposto ao perigo de incêndio.
BOQUEIRÃO: nome popular do distrito de São José do Barreiro (município de São Roque de Minas). A palavra significa boca grande, abertura ou quebrada de serra.
BURACA: corruptela de bruaca, mala rústica de madeira que se leva no lombo da mula. Nome de um córrego e de uma região rural a 30 km de São Roque de Minas.
CCACHORRO BEBER ÁGUA EM PÉ: diz-se para reforçar a idéia de que está chovendo muito. “Choveu que até cachorro ‘tá bebendo água em pé”.
CABRESTOS: nome de um distrito do município de Vargem Bonita. Vem de cabresto de cavalo, mesmo. O nome original foi alterado para São Sebastião dos Cabrestos e, mais recentemente, para o pouco criativo e sem graça Campinópolis que, felizmente, ainda não pegou.
DDAR TAPA NO VENTO: esforço inútil, trabalhar sem obter resultado.
DOBRAR O ESPIGÃO (“drobá u ispigão”) ou dobrar o alto (drobá u arto): ir embora, seguir caminho para longe do interlocutor. Usa-se quando a intenção é “dispensar”, mandar alguém embora.
DESINXAVIDO: feio, velho, desajeitado.
DIFRÚCIO: gripe, resfriado. Quando doente, a pessoa diz que está “difruçada”.
EESTAR DOS AVESSOS:ser feio, horrível. Se a pessoa é muito feia, se diz que o sujeito “está dos avessos.”
ESTOPOROU:enfartou ou teve derrame. Segundo o dicionário Houaiss, a grafia correta é estuporou. Significa também fazer cair ou cair em estupor, surpresa, cansar-se muito, tornar-se feio, perder a vida, morrer.
FFEIJÃO PAGÃO: feijão cozido e preparado inteiro, diferente do costume local que é de bater ou amassar o alimento com um socador.
FOLGADO (“FORGADO”): rico, abastado, quem tem dinheiro.
G GALHO CAIU A FOLHA (“O gaio caiu a fôia”): agitado, animado. Usa-se para dizer, por exemplo, que um evento ou uma festa teve muita gente, que foi um sucesso.GARROTE: sobra do almoço, resto de comida.
H HORTA: quintal da casa.HORTA DE COUVE: horta, local onde se cultivam verduras e legumes.
IINSARA: estrepe, espinho.
JJACÁ NA BUNDA: Expressão usada para definir pessoa pretenciosa, que tenta parecer o que não é. “Fulano tem um jacá na bunda”. Jacá é um cesto feito de taquara ou cipó.
M MIADA: confusão, complicação.MANOTA: ato falho, dizer ou fazer algo inconveniente e geralmente prejudicial ao próprio autor, “fora”, “mancada”.
OONÇA DO MEIO DIA (ou ONÇA NO PESCOÇO): preguiça que dá após o almoço.
PPITIGUENTO: acabado, muito doente, pra morrer.
PREGAR NO BARRO: atolar, encalhar.
PRECATA: amassada, achatada, destruída. Palavra usada também como substantivo, sinônimo de chinelo.
RROLANDO CUPIM MORRO ARRIBA: O mesmo que “remando contra a correnteza”. Esforço estúpido, contrário ao que deveria ser feito.
SSUNGAR: levantar, erguer. Segundo o dicionário Aurélio, a palavra vem do quimbundo (língua indígena de Angola, África), derivada de “kussunga”, que significa “puxar”.
SARAMBA:
lanche, matula, comida leve que se leva pra roça e é consumida geralmente algumas horas depois do almoço, no meio da tarde.
TIU: cachorro. Usa-se apenas para chamar ou dar uma ordem ao animal. Exemplo: “vem, tio”, “sai pra lá, tio”.
TIU BOCA:
expressão usada para chamar o cachorro na hora da comida
TUTAMÉIA: pouca coisa, ninharia, corruptela de tuta e meia, por sua vez derivada do quimbundo – “mu’kuta”, moeda africana. Linda palavra, em franco desuso, que virou até título de um livro de Guimarães Rosa.
TATU DE CORRENTE: expressão usada para dizer que a estrada ficou intransitável depois da chuva. “Hoje não passa nem tatu de corrente”.
ZZAGAIA: arma feita de madeira, uma espécie de espeto que fica preso no alto da construção e é solto para atingir alguém que está embaixo. Nome de uma fazenda cujas ruínas ficam no extremo oeste do Parque Nacional, marcada por uma história de banditismo e crueldade: diz o povo que o dono usava essa arma para matar e roubar, traiçoeiramente, os boiadeiros que vinham pernoitar e negociar gado. Nome do chapadão onde nasce o rio São Francisco.