Legenda: Café da Serra da Canastra, em Minas Gerais, recebe registro de Indicação Geográfica — Foto: Reprodução/TV Globo
O café da Canastra tem um marcante ”terroir” – palavra francesa que, no ramo da gastronomia, expressa a influência do solo, do clima e do manejo das lavouras na qualidade de um produto.
Por Jornal da Globo
As características únicas da Serra da Canastra, no interior de Minas Gerais, e as relações humanas com o campo estão ainda mais valorizadas depois de uma conquista recente em setembro, o café da Canastra recebeu o registro de ”Indicação Geográfica”, concedido pelo INPI, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial, ligado ao Governo Federal.
“A indicação geográfica ela vai trazer, ela vai diferenciar as qualidades de um produto ou serviço, em função da sua área geográfica, em função do território, aonde esse produto é produzido, é fabricado ou esse serviço é prestado”, afirma José Renato Carvalho Gomes, chefe do escritório do INPI em Minas Gerais.
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No Brasil, as Indicações Geográficas são de dois tipos:
a Indicação de Procedência é concedida a um país, cidade ou região conhecidos pelo seu ”Know-How”, ou em português, o ”Saber-Fazer” de um determinado produto ou serviço. Nós temos exemplos em todas as regiões do país o Queijo do Marajó, no Pará. O mel, do Pantanal. Os doces, de Pelotas, no Rio Grande do Sul. O Polo de Calçados de Franca, no interior de São Paulo. E o Porto Digital, no Recife, um centro de referência em inovação e tecnologia.
O outro tipo de Indicação Geográfica é a chamada Denominação de Origem: Nesse caso, o lugar é reconhecido por oferecer um produto ou serviço de características únicas, que só existem naquela região, considerando não apenas o ”saber fazer”, mas também fatores naturais, como solo, clima, altitude. A relação inclui: O arroz do litoral norte gaúcho, Os camarões da Costa Negra, no Ceará, um vinho do Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul e um café da Canastra, o novato da lista.
Para pleitear a Indicação Geográfica, os produtores devem se organizar em uma associação ou sindicato, por exemplo. E atender a uma série de exigências.
“Esses três ítens, caderno de especificações técnicas, a delimitação da área e tb a comprovação da notoriedade, se for Indicação de Procedência, e se for Denominação de Origem, que o meio influencia na qualidade do produto, são essenciais pra vc fazer o pedido de Indicação Geográfica, solicitar isso junto ao INPI”, explica o chefe do escritório do INPI em Minas Gerais.
Benefícios
A Indicação Geográfica traz vários benefícios: protege o nome das regiões contra pirataria e fraudes, fortalece o turismo local e garante mais qualidade ao consumidor.
“Os produtores se unem, se organizam, na forma, são representados por uma entidade coletiva, criam uma governança local e cuidam os próprios produtores da qualidade daquele produto e da garantia de que ele é feito naquele local, com aquelas condições, com aquele saber fazer tradicional daquela região”, destaca Hulda Giesbrecht, analista de inovação do Sebrae.
O Brasil tem hoje 108 localidades com essas Indicações. Quase 80% delas estão relacionadas ao agronegócio. Minas Gerais é o estado com mais registros.
O café
O café da Canastra tem um marcante ”terroir” – palavra francesa que, no ramo da gastronomia, expressa a influência do solo, do clima e do manejo das lavouras na qualidade de um produto. Na Canastra, fatores como altitude, umidade e temperatura mais amena na maior parte do ano contribuem pra produção de um café com aromas e sabores que remetem. Por exemplo, ao chocolate, à castanha e à frutas cítricas, como laranja e limão-cravo. Além de uma doçura natural , que lembra o mel e açúcar mascavo.
A produção desses grãos especiais vem de mais de 1.100. propriedades (1167), que juntas, somam 33 mil hectares de lavouras (33.223) em dez municípios da região (Medeiros, Bambuí, Doresópolis, Pimenta, Piumhi, Capitólio, São João Batista do Glória, Vargem Bonita, São Roque de Minas e Delfinópolis).
Desenvolvimento local
A maioria dos produtores do café da Canastra faz parte da agricultura familiar. Esse modelo que distribui renda entre a comunidade, preserva a cultura local e as técnicas tradicionais de cultivo. E que também teve um grande peso na decisão sobre o registro. Faz mais de 30 anos desde que o Romilton percebeu que São Roque de Minas era terra boa pra apostar no café, mas produção só foi engrenar de vez nos anos 2010.
“Comecei numa sociedade, a gente aumentou a área de café, isso foi 2014. 2015 a gente plantou outra área, que nós fomos pra quase 20 hectares, praticamente, né? (E eu já tinha cinco e meio), então já fomos lá pra uma área que já dava pra trabalhar por conta. Ficar só por conta”, diz Romilton Donizete da Silva, agricultor.
A família faz parte de um setor que emprega mais de 21 mil pessoas (21.500) na Canastra. 20% da população total da região. E assim, o café especial da Canastra traz renda pra comunidade e é mais um motivo para atrair olhares e paladares à região.
“Agora, automaticamente a gente tá pegando carona e juntando queijo, café, e o turismo, eu acho que tem tudo pra dar certo. Uma coisa chama a outra”, destaca Nilvanilce Pereira da Silva, comerciante e cafeicultora.
Fonte: https://g1.globo.com/